Indignamente Dignos. Como nos aproximar da Ceia do Senhor com reverência e verdade

Indignamente Dignos. Como nos aproximar da Ceia do Senhor com reverência e verdade

Muitos, ao falarem da Ceia do Senhor, enfatizam o perigo de participar dela de forma indigna, conforme Paulo ensina em 1 Coríntios 11. No entanto, um erro ainda mais perigoso pode surgir dessa interpretação: o da autojustificação. Ou seja, pessoas que se aproximam da mesa do Senhor cheias de si mesmas, julgando-se dignas por méritos próprios.

Neste sermão, quero apresentar uma perspectiva que pode parecer contraditória, mas é profundamente bíblica:

A única maneira legítima de nos aproximarmos da Ceia é "indignamente". Não no sentido repreendido por Paulo (participar de modo leviano ou irresponsável), mas no sentido que emerge de um sincero autoexame: a percepção de que não somos dignos por nós mesmos, e ainda assim somos convidados por graça.

 

Aproximando-se com Confissão de Pecados

A dignidade verdadeira diante da mesa do Senhor começa com humildade e arrependimento. A Ceia nos chama ao autoexame e à confissão honesta.

1 João 1:8–9

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”

1 João 2:1–2

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis;
e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”

Lucas 18:9–14

“Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:
Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e outro publicano.
O fariseu, em pé, orava consigo mesmo desta forma:
‘Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens: roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.
Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.’
O publicano, estando em pé, de longe, nem mesmo levantava os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo:
‘Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’
Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele;
porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”

Aproximar-se “indignamente digno” é confessar e reconhecer a condição caída em que nos encontramos, mas ainda assim confiar na graça do Senhor.

Aproximando-se Sem Justiça Própria

Nossa justiça é falha. A Ceia do Senhor nos convida a abandonar qualquer confiança em nossas próprias obras e nos apoiar unicamente na justiça de Cristo.

Paulo entendeu isso em Filipenses 3:3–9

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
Ainda que também poderia confiar na carne.
Se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu:
Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu;
quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
Mas o que para mim era lucro, isso considerei perda por causa de Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo
e seja achado nele, não tendo justiça própria, que vem da lei, mas aquela que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé.”

Isaías 64:6

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia;
e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.”

Lucas 18:13–14 (relembrando o final da parábola)

“‘Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’
Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele;
porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”

Chegar à mesa “indignamente digno” é entender que não há nada de bom em nós, e o que há bem em nós, vem de Cristo.

Reconhecendo que Você Não Pode se Salvar

Participar da Ceia é um testemunho de que dependemos exclusivamente da obra salvadora de Cristo. A salvação não vem de esforço humano, ela é um presente.

Efésios 2:8–9

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

Em João 3:16 vemos que Deus nos salva por amor e não por nossos méritos.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

João 10:27–30 nos dá clareza de que a vida eterna não é conquistada, mas nos é dada pelo Bom Pastor.

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos;
e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
Eu e o Pai somos um.”

Participar da Ceia é declarar que não somos salvadores de nós mesmos, mas que fomos salvos por um Salvador perfeito. A salvação é dom, não conquista.

Conclusão

O evangelho nos diz algo maravilhoso e paradoxal:

Você nunca será digno de Cristo, e é exatamente por isso que a Ceia é para você.

Nos aproximamos da mesa do Senhor indignos, mas cobertos pela dignidade de CristoCom o coração quebrantado, mãos limpas pela confissão e olhos voltados para o Cordeiro, participamos do memorial da cruz com temor, alegria e gratidão.

Pr. Leonardo Alcântara